segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Brasil precisa de uma nova bandeira




"... em substituição ao lema positivista da faixa central, eu ainda fico em dúvida entre algumas opções de aproveitamento do espaço. Poderia servir à publicidade, arrecadando valiosas receitas pro Estado e diminuindo os impostos.“Casas Bahia, tudo em 10 vezes sem juros!”



Reconheço não ser essa uma prioridade, talvez nem mesmo uma necessidade. Na verdade espero que seja justamente o oposto, o tipo de coisa com a qual não nos preocuparíamos nem se um dia não tivéssemos mais nada pra nos preocupar. Só acho que precisa.

O problema maior eu vejo nesse lema ridículo de “Ordem e Progresso”. Segundo a Wikipedia, baseado no positivismo do Augusto Comte. “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”.

O progresso não pode ser um fim em si, e isso já deveria ser bastante óbvio, ensinado a todos desde os anos iniciais do jardim de infância. Nas palavras de Adorno e Horkheimer, simplesmente “pra que Auschwitz não se repita”. Porém esse é um tema um tanto longo e quem discordar da questão pode encontrar esses dois opositores mais empenhados na “Dialética do Esclarecimento”. Ou no álbum The Suburbs, do Arcade Fire. Aqui eu quero apenas provocar....e a combinação das cores também é terrível!

Admito que isso pode ser uma questão de gosto pessoal, ainda que eu desconheça alguém que tenha decorado a sala de casa com as tonalidades da pátria. Parece-me que superado o sentimentalismo adquirido por osmose depois de tantas copas do mundo, o verde e o amarelo voltam a ser incompatíveis em qualquer projeto que não seja o de um semáforo.

Gostaria de uma bandeira preta, básica. Talvez cinza. E que essas cores deixassem de ser estigmatizadas. O preto poderia simbolizar o petróleo, ainda que um dia ele acabe, é provável que dure mais que o verde da Amazônia. Quem sabe possa entrar na bandeira pelo sistema de cotas. O cinza seria uma homenagem à fumaça da máquina a vapor, símbolo máximo da revolução industrial e do progresso, que de modo algum precisa ser esquecido, apenas reinterpretado.

Acho que seria mais apropriado também no lugar das estrelas, bundas. O pudor é uma donzela velha e frígida e a contribuição brasileira nesse setor ainda é muito maior do que em pesquisas astronômicas. Poderíamos escolher as mais bonitas de quatro em quatro anos, cada uma representando um estado, e imortalizá-las na Academia Brasileira de Bundas. Nessa o Sarney talvez não entre.

Já em substituição ao lema positivista da faixa central, eu ainda fico em dúvida entre algumas opções de aproveitamento do espaço. O certo é que deveria ser algo também escolhido em votação popular e rotativo, adaptado ao contexto de mudança constante pós-moderno. Em algum momento poderia servir à publicidade, arrecadando valiosas receitas pro Estado e diminuindo os impostos, então seria feita uma licitação. “Casas Bahia, tudo em 10 vezes sem juros!”. Em outro, simbolizar a arte do período. “Ai, se eu te pego, ai ai!”. Talvez em versão internacional “Oh, if I catch you, oh, oh!”. Mas a interpretação oficial do sentido necessitaria de novo pleito, visto que é comum as obras de arte terem várias possíbilidades subjetivas.

No exemplo proposto, entendo o “ai”, como uma interjeição de dor, que seguido pelo verbo "pegar" no sentido erótico, quem sabe represente “que toda alegria já vem embrulhada num papelzinho fino de tristeza”, como sabia o Millôr melhor que o Comte. Já em inglês o “oh” me parece mais relacionado à glória, satisfação. E o verbo “catch” é entendido na acepção imortalizada em “The catcher in the rye” - O apanhador no campo de centeio. No clássico de J.D Salinger, “catcher” tem um sentido de salvador. O protagonista Holden Caulfield sonha que impede as crianças que correm em um campo de centeio de caírem no abismo a sua frente. O mundo dos adultos é esse abismo, a perda da pureza infantil. O nosso abismo poderia ser escolhido outra vez por votação e assim aproveitamos mais a maior invenção da história desse país, orgulho nacional, que é a urna eletrônica. Dessa vez a escolha seria: “Do que você quer salvar nossas crianças?” E eu voto na opção: “da estupidez". Não há outro pecado.

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